sábado, 28 de março de 2009

Camisetas chegando...




Já recebemos muitas camisetas para a campanha Ufal em defesa da vida, mas estamos longe do número ideal. Precisamos reunir 2.064 camisas, para fazer uma representação visual das 2.064 vidas ceifadas em Alagoas no ano de 2008. (É sempre bom lembrar que essas camisetas serão doadas a comunidades carentes...) São muitas camisetas e são, portanto, muitas vidas. Estamos mobilizando alunos e professores da UFAL, amigos, familiares, conhecidos... A coisa está caminhando, mas não é fácil. Como se conseguiu matar tanta gente??? Cada camiseta que recebo, penso em uma vida que se foi violentamente...

Nunca é demais participar de movimentos de revalorização da vida, sobretudo diante da apatia das nossas classes média e alta, alheias a tudo isso, como se a violência fosse coisa alienígena. Somente quando são vítimas é que essas pessoas se posicionam a respeito da violência. Um dado curioso é que, dentro desse grande número de mortes violentas, a maior parte é de jovens pobres que matam jovens pobres. Eles são, ao mesmo tempo, vítimas e algozes. Conversando sobre isso com alguém, recebi o seguinte golpe:

- Acho é bom quando morre um deles. É um a menos.

Imediatamente pensei naquele apelo de Cristo:

- Perdoa-lhes, Senhor... Eles não sabem o que dizem.

domingo, 22 de março de 2009

Sem limites...

Fui surpreendida, hoje, com a notícia da violência cometida contra o Padre Henrique Soares, covardemente espancado por quatro homens que o assaltaram quando retornava de Poxim (Coruripe), onde acabara de celebrar uma missa. Episódios como esse nos colocam, mais uma vez, diante da total ausência de freios morais que marca a contemporaneidade e que se expressa nas mais cruéis formas de violência e criminalidade. Recomendo a leitura do blog do Padre Henrique que, felizmente, é um homem de uma densa e profunda fé cristã, que faz dele um exemplo para todos nós. Mesmo marcado pelas dores que certamente não são apenas físicas, o religioso faz, ali, uma reflexão muito serena sobre o que aconteceu. Também o irmão do Padre Henrique, o advogado Adriano Soares, tratou do tema em seu blog "Dialogando".
É mesmo lamentável que no ano em que a Campanha da Fraternidade trata dos desafios da segurança pública, dois padres tenham sido vítima de violência na cidade de Maceió (O outro foi o Padre Petrúcio, assaltado em sua própria casa, no bairro da Mangabeiras, por homens armados, que também o agrediram). Que esses fatos sejam mais um incentivo ao enfrentamento da questão da violência, não somente pela Igreja Católica, mas por toda a sociedade civil. Não basta, apenas, que fiquemos indignados diante dos fatos... É preciso sair da inércia. Há poucos dias tratei, aqui, da campanha "Ufal em defesa da vida", que convoca a comunidade acadêmica e a sociedade civil a participar de um ato público no campus A.C. Simões, no dia 02 de abril. Espisódios como esse que aconteceu com o Padre Henrique demonstram a importância desse movimento.

quarta-feira, 18 de março de 2009

Memory




Deixo aqui, para o Leitor, uma bela música, interpretada com muita emoção no musical CATS, em Londres:


Daylight
See the dew on the sunflower
And a rose that is fading
Roses whither away
Like the sunflower
I yearn to turn my face to the dawn
I am waiting for the day . . .


Midnight
Not a sound from the pavement
Has the moon lost her memory?
She is smiling alone
In the lamplight
The withered leaves collect at my feet
And the wind begins to moan


Memory
All alone in the moonlight
I can smile at the old days
I was beautiful then
I remember the time I knew what happiness was
Let the memory live again
Every streetlamp
Seems to beat a fatalistic warning
Someone mutters
And the streetlamp gutters
And soon it will be morning


Daylight
I must wait for the sunrise
I must think of a new life
And I musn't give in
When the dawn comes
Tonight will be a memory too
And a new day will begin


Burnt out ends of smoky days
The stale cold smell of morning
The streetlamp dies, another night is over
Another day is dawning


Touch me
It's so easy to leave me
All alone with the memory
Of my days in the sun
If you touch me
You'll understand what happiness is


Look
A new day has begun

sábado, 14 de março de 2009

Ufal em defesa da vida


Transcrevo aqui o convite da Coordenação de Política Estudantil - PROEST/UFAL (Professora Ruth Vasconcelos):

"A violência no Estado de Alagoas tem uma dimensão histórica e não apenas conjuntural. Tomando por base informações constantes no Relatório do Ministério da Saúde, a cidade de Maceió configura-se como a capital metropolitana MAIS violenta da federação; ou seja, é o espaço geográfico no Brasil em que a população corre mais riscos de vida. Atualmente, segundo dados oficiais da Secretaria de Defesa Social do Estado de Alagoas, nosso Estado registrou, de Janeiro a Dezembro de 2008, 2.064 homicídios. A UFAL não pode ficar silenciosa diante de tal realidade. Neste sentido, estamos propondo o desenvolvimento de um Programa permanente denominado “UFAL EM DEFESA DA VIDA”, que tem por objetivo realizar atividades culturais, científicas e artísticas trazendo a temática da Violência, dos Direitos Humanos e da Segurança Pública para o universo da Comunidade Universitária. O que podemos fazer para reverter esse índice tão desastroso e alarmante que assusta todos(as) os(as) viventes que partilham esta realidade? Na verdade, TODOS(AS) estamos inseridos(as) no contexto da violência, simplesmente porque se não há segurança para TODOS(AS), não há segurança para ninguém. Como atividade inicial, vamos realizar um Ato Público, e para isso estamos convocando a comunidade universitária através das Coordenações, Unidades AcadÊmicas, CA’s, DA’s e DCE (estudantes, professores(as) e funcionários(as)) para se implicarem com a construção do movimento “UFAL EM DEFESA DA VIDA”. Para ajudar a realização do nosso Ato, doe uma camisa/blusa (usada) para a construção de um GRANDE VARAL que simbolizará aqueles(as) que foram assassinados(as) em nosso Estado.
PONTOS DE ARRECADAÇÃO DAS CAMISAS/BLUSAS: PROEST, RESTAURANTE UNIVERSITÁRIO, BIBLIOTECA CENTRAL, ESPAÇO CULTURAL (SETOR DE ARTES), ICBS, CECA E HOSPITAL UNIVERSITÁRIO."
__________________________________________
Se acreditamos que o enfrentamento da violência e da criminalidade deve passar por uma mudança cultural no cotidiano das pessoas, então iniciativas como essa certamente podem ajudar nesse sentido. A Universidade é um local plural, propício para debates e iniciativas da sociedade civil. Espero que no dia 02 de abril possamos fazer um belo ato público, primeiro passo para fomentar o envolvimento da comunidade acadêmica nas polícitas públicas de revalorização da vida e da paz em Alagoas. Parabéns à querida Ruth Vasconcelos pela iniciativa!

quinta-feira, 12 de março de 2009

Elas cantam Bossa Nova no Santa Luzia


Aconteceu ontem, no Santa Luzia, único presídio feminino de Alagoas. Ainda em comemoração à semana da mulher, a Secretaria da Mulher, Cidadania e Direitos Humanos, atraés da secretária Wedna Miranda, promoveu um dia de cidadania para as mulheres presas. Foram realizados atendimentos médicos, balcão de direitos para a confecção de RG e CPF, além de revisão dos prontuários das reeducandas com a colaboração de defensores públicos, promotores de justiça e juízes. Não foi possível fazer revisão dos processos, já que os autos não chegaram ao presídio a tempo. No entanto, os profissionais do Direito ali presentes verificaram as aberrações jurídicas presentes nos processos daquelas mulheres e deixaram agendado um "mutirão" para revisão de todos os processos (no dia 03/04/2009), para o qual está prevista a redução de 40% da população cercerária. O Santa Luzia conta, atualmente, com 116 mulheres presas, das quais apenas 7 são condenadas. Todas as demais aguardam julgamento e a grande maioria dos processos tramita nas comarcas do interior do Estado de Alagoas. Um verdadeiro absurdo que demonstra o descaso da nossa Justiça com essas pessoas.
O dia de cidadania foi encerrado com o show "Elas cantam Bossa Nova", realizado na quadra de esportes do Santa Luzia. Na platéia, todas as reeducandas, que animadamente dançavam ao som de Fernanda Guimarães, Leureny, Wilma Miranda e Elaine Kundera. Ao final, as reeducandas pediram que tocassem reggae e, de improviso, Fernanda Guimarães puxou meia dúzia de músicas que levaram a platéia ao delírio. E eu, também cantando e dançando com elas, fotografei tudo (ver foto acima). Embora o corpo de agentes penitenciários estivesse temeroso de que pudesse haver algum problema pelo fato de o show acontecer na parte externa do presídio, a alegria e a tranquilidade contrariaram qualquer previsão nefasta. Foi um momento maravilhoso.


O dia de ontem me lembrou um outro show que aconteceu no antigo presídio São Leonardo, também em Maceió, no ano de 2001, quando Tutmés Airan era Secretário de Justiça e Cidadania. Também contrariando o temor geral de que aquele momento cultural se tornasse uma oportunidade para motim ou rebelião, Tutmés conseguiu levar ao presídio o cantor Luiz Carlos, do grupo de pagode "Raça Negra". Luiz Carlos cruzou o enorme pátio do presídio São Leonardo sem grande aparato de segurança, cumprimentou os presos com atenção e cantou, ao vivo, os maiores sucessos do grupo. Nem sei descrever aquele momento. Todos cantaram e dançaram em paz, aplaudiram fervorosamente e certamente guardaram na memória aquele momento de alegria. Eu guardo aquele dia, assim como o dia de ontem, no rol dos momentos mais felizes da minha vida.

segunda-feira, 9 de março de 2009

Em briga de marido e mulher...

Estava eu, hoje pela manhã, na escola estadual Rodriguez de Melo, no bairro do Vegel, em Maceió. Fui a convite da Secretaria Estadual da Mulher, Cidadania e Direitos Humanos, com o propósito de proferir uma palestra sobre a violência contra a mulher para jovens entre 15 e 24 anos, moradores das periferias de Maceió e atendidos pelo projeto PROTEJO, ligado ao PRONASCI, do Ministério da Justiça. Experiência ímpar, garanto. Muita interação, muito senso de humor, muitos questionamentos. Lá pelas tantas, buscando demonstrar a importância de se discutir publicamente as questões relacionadas à violência doméstica, participei do seguinte diálogo:
- Vocês lembram daquele ditado "em briga de marido e mulher ninguém mete a colher"?
- Que nada, Tia! Hoje em dia se mete é a faca!!!
Três segundos para digerir a resposta... Welcome to the jungle!

domingo, 8 de março de 2009

Feminista, graças a Deus!

Sim, sou feminista. Embora 90% da humanidade não tenha a mímina ideia do que isso significa (ainda pensam naquela figura feminina caricata que queima soutiens em praça pública...), há 10% que compreende o real sentido dessa afirmação. Nesses 10% estão mulheres e homens que fazem a vida mais interessante, pois na trilha da existência compartilham a busca por uma atmosfera de igualdade e respeito, onde o HUMANO esteja acima de qualquer dicotomia socialmente construída a partir das diferenças do corpo biológico.
Sim, sou feminista. Convivo com uma realidade social que ainda coloca a mulher em situação de marginalidade na esfera do trabalho, seja porque mulheres recebem salários menores que os dos homens (embora desempenhem a mesma função), seja porque sofrem discriminações veladas por aqueles (e aquelas!) que não conseguem admitir o valor de uma boa atuação profissional.
Sim, sou feminista. Deparo-me com mulheres que enfrentam tripla jornada de trabalho e que ainda são vítimas da violência doméstica (mais visível nas camadas menos favorecidas e bastante dissimulada nas classes mais abastadas). São mulheres que trazem marcas no corpo e na alma, que sofrem e que choram em silêncio. Mulheres que dão a vida pelos filhos e pelos companheiros e que têm em comum o desejo de serem felizes.
Sim, sou feminista. Acredito que as mulheres tornam a vida mais interessante, com a sensibilidade e o encantamento pelas coisas simples. Nas artes plásticas tornam-se inspiração: as banhistas de Renoir, as deusas de Boticcelli, a Gioconda de Da Vinci. Na literatura, rompem a barreira do óbvio e nos revelam o mundo mágico do imaginário: Clarice Lispector, Cecília Meirelles, Cora Coralina (só para citar algumas...). Na música, provoam nossos ouvidos de beleza: Maria Betânia, Marisa Monte, Elba Ramalho, Ana Carolina...
Sim, sou feminista. Compartilho com milhões de mulheres desconhecidas, Marias espalhadas por todos os continentes, a dor e a delícia de ser mulher. Sonho com um mundo melhor, sofro com as dores dos outros, alegro-me com um pôr-do-sol... Se tivesse outra vida para viver, pediria a Deus: quero ser mulher novamente! Sou feminista, graças a Deus!
Para todas nós: Feliz Dia Internacional da Mulher!
Maria Maria
(Milton Nascimento e Fernando Brant)
Maria,Maria
É um dom, uma certa magia
Uma força que nos alerta
Uma mulher que merece viver e amar
Como outra qualquer do planeta

Maria,Maria
É o som, é a cor, é o suor
É a dose mais forte e lenta
De uma gente que ri quando deve chorar
E não vive, apenas agüenta

Mas é preciso ter força
É preciso ter raça
É preciso ter gana sempre
Quem traz no corpo a marca
Maria, Maria
Mistura a dor e a alegria

Mas é preciso ter manha
É preciso ter graça
É preciso ter sonho sempre
Quem traz na pele essa marca
Possui a estranha mania
De ter fé na vida

Mas é preciso ter força
É preciso ter raça
É preciso ter gana sempre
Quem traz no corpo a marca
Maria, Maria
Mistura a dor e a alegria

Mas é preciso ter manha
É preciso ter graça
É preciso ter sonho sempre
Quem traz na pele essa marca
Possui a estranha mania
De ter fé na vida

sábado, 7 de março de 2009

Beto e Fernando Pessoa


Estou levando o meu blog para um caminho mais literário, poético, lírico, onírico... Deve ser influência do blog do meu irmão Humberto, que recebe o curioso nome de Domingo à noite. Dono de uma criatividade ímpar, o Beto tem o poder de arrancar muitas risadas dos leitores e de nos colocar, ao mesmo tempo, diante de algumas reflexões interessantes. Por isso os leitores tornam-se assíduos e deixam sempre comentários curiosos. A proposta dele é não falar nada muito sério. Sobre isso, inclusive, escreveu um post um tanto filosófico, de um existencialismo bem sartreano, que vale a pena conferir: Em busca da minha voz.


MDA...(Mudando de assunto...) Hoje, em um determinado momento do dia, precisei da companhia de Fernando Pessoa para uma certa argumentação. Caiu como uma luva:


Autopsicografia



O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.

E os que lêem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.
E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama coração.

domingo, 1 de março de 2009

São as águas de março fechando o verão...

Este belo domingo de chuva marca o início do mês de março. Eu, que adoro chuva, acho uma feliz coincidência para o dia 1º de março. Para dar as boas-vindas ao novo mês, venho acompanhada de Tom Jobim e Elis Regina:
Águas de março
É pau, é pedra, é o fim do caminho
É um resto de toco, é um pouco sozinho
É um caco de vidro, é a vida, é o sol
É a noite, é a morte, é um laço, é o anzol
É peroba no campo, é o nó da madeira
Caingá candeia, é o matita-pereira
É madeira de vento, tombo da ribanceira
É o mistério profundo, é o queira ou não queira
É o vento ventando, é o fim da ladeira
É a viga, é o vão, festa da cumeeira
É a chuva chovendo, é conversa ribeira
Das águas de março, é o fim da canseira
É o pé, é o chão, é a marcha estradeira
Passarinho na mão, pedra de atiradeira
É uma ave no céu, é uma ave no chão
É um regato, é uma fonte, é um pedaço de pão
É o fundo do poço, é o fim do caminho
No rosto um desgosto, é um pouco sozinho
É um estepe, é um prego, é uma conta, é um conto
É um pingo pingando, é uma conta, é um ponto
É um peixe, é um gesto, é uma prata brilhando
É a luz da manha, é o tijolo chegando
É a lenha, é o dia, é o fim da picada
É a garrafa de cana, o estilhaço na estrada
É o projeto da casa, é o corpo na cama
É o carro enguiçado, é a lama, é a lama
É um passo, é uma ponte, é um sapo, é uma rã
É um resto de mato na luz da manhã
São as águas de março fechando o verão
É a promessa de vida no teu coração
É uma cobra, é um pau, é João, é José
É um espinho na mão, é um corte no pé
São as águas de março fechando o verão
É a promessa de vida no teu coração
É pau, é pedra, é o fim do caminho
É um resto de toco, é um pouco sozinho
É um passo, é uma ponte, é um sapo, é uma rã
É um belo horizonte, é uma febre terçã