Há pouco mais de uma semana o Brasil parou para "assistir" o drama da adolescente Eloá, feita refém por seu ex-namorado, inconformado com o término do relacionamento. Depois de Isabella Nardoni, foi o caso de maior visibilidade na mídia nacional. Em algumas emissoras da televisão, a tensa situação vivida no interior daquele apartamento em São Paulo tornou-se mais um espetáculo rentável, vendido como mercadoria para um público ávido por tragédias. Em nome da informação, vale tudo, até mesmo interferir nas negociações entre a polícia e o sequestrador. Antes mesmo que os policiais estabelecessem contato com o autor do crime, a mídia já o colocava em rede nacional, explorando erroneamente muitos aspectos subjetivos delicados, sobretudo diante da visível situação de transtorno emocional pela qual passava o algoz. Sentindo-se protagonista do drama ali vivido, Lindemberg teve o controle da situação por mais de cem horas. Os negociadores não eram apenas os policiais, mas os jornalistas e a própria sociedade civil, que opinava sobre o caso, mandando “recados”, ao vivo, para o seqüestrador. Não quero nem entrar no mérito do desastroso retorno da segunda refém, Nayara, para o interior do apartamento. É difícil, até mesmo para um leigo, acreditar que a polícia tenha permitido tal conduta. Além disso, se a polícia invadiu o apartamento antes ou depois de ouvir tiros, é a investigação quem vai comprovar. O fato é que, o trágico final daquele drama demonstra, mais uma vez, a forma amadora de tratar questões que envolvem a complexidade humana. A ausência de profissionalismo entre alguns dos que atuam nas situações-limite do ser humano, sobretudo na esfera das práticas criminosas, acaba por comprometer o andamento de negociações e investigações policiais. O caso de Eloá foi mais um crime passional. Entretanto, passional também foi a atuação da imprensa, que de forma irresponsável espetacularizou uma tragédia. E ainda questionam se foi uma bala da polícia ou do seqüestrador que matou Eloá...
Publicado na Gazeta de Alagoas em 30/10/2008.(http://gazetaweb.globo.com/v2/gazetadealagoas/texto_completo.php?cod=136786&ass=37&data=2008-10-30)
3 comentários:
o excesso de mídia desqualificada, além de massificar informações errôneas ganha agora a capacidade de transformar situações. Como se não bastassem as opiniões "enlatadas", agora mexe com os destinos de várias vidas, quando é que as pessoas vão acordar pra isso? ;/
O detalhe, no entanto, é que: se temos uma mídia sensacionalista, que espetaculariza a morte, é porque temos uma vasta rede de consumidores desse tipo de produto. Talvez seja esse o aspecto mais perverso de toda essa discussão.
Bela reflexão, Elaine!
E quero vê até quando vai permanecer em nossas mentes o sofrimento vivido por Eloá, por que o drama com a menina Isabella aos poucos está se dissolvendo... E é isso que mais me impressiona! Pra que tanta espetaculaziração se depois tudo cai no esquecimento?!
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