Hoje à tarde a UFAL recebeu o Prof. Antanas Mockus, ex-prefeito de Bogotá, que veio a Maceió para colaborar com o Governo do Estado nas ações de combate ao crime e à violência. A reunião controu com as presenças da Reitora Ana Dayse, do Vice-Reitor Eurico, de alguns dos Diretores de Centros e demais professores interessados na temática. Nós, do NEVIAL, também estávamos lá, unindo forças para colaborar através de nossas pesquisas e estudos, sempre voltados para a questão da violência. A apresentação de Antanas Mockus envolveu uma concepção de cidadania que parte da valorização da vida humana, fundamental para qualquer atividade que se proponha a reduzir os índices de homicídio. Esse, aliás, é o objetivo inicial do Plano de Paz que se busca implantar em Maceió, que já conta com um número de homicídios/mês maior do que na Faixa de Gaza. Lamentavelmente, são muitas vidas perdidas a cada dia, sendo em sua maioria jovens das classes economicamente mais pobres. É claro que isso já começa a bater na porta da classe média, mas não com a contundência com a qual atinge as populações dos bairros pobres. A desvalorização da vida e a banalização da morte - expressões da Professora Ruth Vasconcelos - reconfiguram a forma como a violência se manifesta, de modo a tornar muito delicada a abordagem ao problema, já que as pessoas não mais se chocam com a morte violenta de um jovem. A proposta de Mockus não se concentra na punição, no recrudescimento da legislação ou em respostas violentas. Ao contrário, busca encontrar na própria sociedade os sentimentos que norteiam a idéia de uma vida pacífica e harmoniosa, pautada pelo respeito aos outros e pela valorização da cultura local, como no caso do Bumba-meu-boi, elemento típico do folclore alagoano, que poderá ser utilizado como um instrumento para a valorização dos sujeitos. A longa reunião rendeu bons frutos, sobretudo porque muitos dos professores presentes demonstraram o interesse pelo tema, tratado direta ou indiretamente em suas pesquisas, desde a área de saúde, até no campo das ciências exatas, que podem contribuir, principalemente, na formação de um banco de dados sólido para nortear as ações do Estado e da sociedade civil. O NEVIAL está aí, atento a tudo isso. Sinto que há algo diferente no ar... Nunca a questão da segurança pública em Alagoas foi tratada nesses termos: cidadania, cultura, revalorização da vida. Espero poder ver concretizados as idéias há tanto tempo debatidas pelos cientistas sociais.
quinta-feira, 28 de agosto de 2008
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5 comentários:
Uma pena não poder estar presente, mas quando morava na Argentina, o governo estava tentando usar as mesmas estratégias que a Colômbia usou... realmente a valorização do indivíduo e a mudança de combate para prevenção é algo que deferia ser implementado... Vejo que Alagoas esta investindo em ciência para poder vencer suas debilidades.
Queria ver a "mudança do combate para prevenção" e a "ciência" funcionando com Pablo Escobar vivo e atuante.
Realmente a morte de Escobar foi de grande importância para a mudança do quadro colombiano. No entanto, Escobar possuía toda uma rede de membros de sua confiança que levariam em frente seus interesses.
Tenho minhas dúvidas quanto a duração da era Escobar e sua influência na perpetuação da situação daquele então.
Elaine,
Concordo que há algo diferente no ar ... talvez seja exatamente a disposição em discutir a inserção do sujeito no processo de produção da violência. Já é tempo de nos implicarmos subjetivamente com a problemática da violência, deixando para trás aquela postura "queixosa" e "lamurienta" que atribui a culpa de todas as mazelas sociais ou ao Estado ou a estrutura capitalista. Esse paradigma ausenta os sujeitos do processo social, atribuindo um caráter autômato à estrutura capitalista, como se esta tivesse vida própria, independente dos sujeitos. É interessante começarmos a pensar que as estruturas(econômicas, sociais, políticas, policiais, prisionais, etc)como criação social, humana, portanto, expressão das relações sociais. A mudança na cultura política de um povo, certamente implicará mudanças estruturais, mas isto não pode ser visto numa perspectiva mecanicista, ingênua, que se ampara no seguinte raciocínio: mudemos primeiro as estruturas; a transformação dos sujeitos virá como conseqüência. É uma estupidez não perceber que o meio é produto das relações humanas; muitos preferem estacionar diante da certeza de que “o homem que é produto do meio”. Na verdade, entre sujeito e sociedade existe uma relação de co-existencialidade, onde é impossível pensá-los separadamente.
Elaine, este é um longo debate que já estamos envolvidas há um bom tempo. Fico muito feliz com a oportunidade que estamos tendo de participar e provocar debates onde a violência não seja vista apenas como algo que está fora do sujeito; pois não há, de fato, um só episódio de violência que não tenha tido a participação do ser humano (a não ser os efeitos violentos que alguns fenômenos da natureza provocam aos seres humanos). Gosto de provocar nas pessoas a seguinte reflexão: em que medida a estrutura é a causa única e exclusiva das atitudes de intolerância e desrespeito que temos, muitas vezes, com os nossos pares?
Ruth,
Esse seu comentário deveria ser transformado em artigo. Não se trata apenas de uma resposta contundente, mas delicada, a provocações "nonsense", mas também sintetiza uma perspectiva mais ampla de avaliação do problema da violência nas cidades contemporâneas. Isso estará no Blog do Nevial (quando for criado!).
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