Dizem que saudade é uma palavra que só existe em português. Não sei se é verdade, mas isso não faz a mínima diferença. Seja em que idioma for, a saudade é um importante elemento de conexão na vida humana. Conecta-nos com o que fomos, com o que deixamos de ser, ou mesmo com o que não fomos e que jamais poderemos ser. Sartreano demais? Talvez. O saudosismo, por sua vez, povoa músicas, poemas e romances. Implica em olhar para trás e ver que valeu a pena o esforço dentro de um movimento político (já que se acreditava, de fato, que é possível mudar o mundo), valeu a pena ajudar alguém que precisava e que hoje é uma pessoa feliz, valeu a pena viver um grande amor, mesmo que não tenha sido amor para toda a vida. Sempre gostei de conversar com os mais velhos e ouvir sobre suas lembranças. Gosto de histórias de vida (uso isso como artifício metodológico em minhas pesquisas sociológicas) e viajo nas narrativas do passado. Talvez por isso, o livro "Chrônicas Alagoanas: lembranças das matas e agrestados de Alagoas", de autoria do Professor Luiz Sávio de Almeida, tenha me marcado tanto. É um dos melhores livros que já li. Não se trata de uma autobiografia, mas mistura elementos da interessante vida do Professor Sávio, vivida nas cidades alagoanas de Viçosa, Capela, Arapiraca e Maceió, com momentos históricos e questões políticas. Assim, a história de Alagoas se faz viva através do olhar do autor. É impossível não se familiarizar com algumas situações narradas e não dar boas risadas com a maneira descontraída como ele descreve, por exemplo, a forma severa de educar as crianças há algumas décadas atrás, o preparo das deliciosas comidas interioranas (da Mamãe, da Vovó, da Titia), ou mesmo a comoção e os rituais que envolvem a morte e o sepultamento de um ente querido. Sempre que encontro o Professor Sávio, puxo alguma coisa do baú desse belo livro e ganho de presente mais algumas narrativas e detalhes dos bastidores. Um verdadeiro privilégio. A sensação que tive, ao ler o livro, foi de reviver algo que não vivi. Senti saudades daquele tempo.
sexta-feira, 1 de agosto de 2008
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6 comentários:
Que lindo Elaine! E assim, eternizamos a história humana. Já comprei o livro de Sávio. Resta, com seu estímulo, fazer sua leitura com o desejo de saudade.
Querida,achei muito bonita sua definição sobre saudade de outrora,de coisas da família que tão bem está retratada no livro do Prof.Sávio ,
que tive a satisfação de ler,recordando tantas coisas de minha infância e rindo bastante com os palavreados dos personagens.Todo nordestino que ama uma boa leitura precisa ler o livro do Prof.Sávio.
Acrescento aqui meu elogio a bela foto ao lado, com paisagem de lírios amarelos,até sentí o perfume...
Ruth, não deixe de ler esse livro. É tão bom que não dá vontade de largá-lo. E quando a gente termina de ler, sente saudades do próprio livro. Veja aí que minha Mãe leu e adorou!
É, Mãe, pena que a foto não exala o perfume. Fica apenas nas minhas melhores memórias...
Amiga nem cheguei a ler o livro, mas saudade é o que não falta no meu vocabulário dos últimos tempos... este sentimento que tento avezar. Com certeza irei em busca deste livro na próxima vez que estiver em MCZ! Parabéns pelo blog está interessantíssimo! Beijos de sua amiga saudosa de toda a sua cultura.
Gysa, bom te ver por aqui! Quando vier a Maceió, não deixe de me ligar para que possamos trocar idéias sobre esse livro. Beijão!
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