quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Consciência zero

Nos últimos dias tenho me deparado com diversas demonstrações de desrespeito ao espaço público. Numa manhã de sexta-feira, em meu caminho diário à universidade, avisto uma pickup de pequeno porte parada sobre o canteiro central da Avenida Durval de Góes Monteiro, no sentido Tabuleiro-Farol. Meu primeiro pensamento é de que se trata de alguém com o carro quebrado, precisando de socorro. Engano meu. Ao passar mais perto percebo que, sem o menor constrangimento, um homem, vestindo a farda de uma empresa, despeja restos de madeira sobre a grama do canteiro. Quando termina seu cuidadoso trabalho, bate as mãos para limpar a poeira, entra no carro e vai embora. Sigo meu caminho imaginando o que se passa pela cabeça daquele sujeito que faz do canteiro de uma das principais avenidas da cidade de Maceió um depósito de lixo. Retornando para casa, no mesmo dia, olho o canteiro com atenção e percebo que a madeira já não está mais lá. No entanto, aquela cena não sai do meu pensamento. Enquanto dirijo, sigo matutando sobre as (in)capacidades humanas e sou surpreendida por uma outra demonstração de desprezo às vias públicas: da janela de um luxuoso carro é lançada uma embalagem de biscoito, que dança de acordo com a música do vento e cai bem no meio da faixa de rolamento. No dia seguinte, vejo alguém de dentro de outro carro lançar uma lata de cerveja pela janela. Ainda cheia do líquido que carrega, a lata sai ricocheteando pelo asfalto, entre um carro e outro, ladeira abaixo. Minutos depois, ao me dirigir a um caixa rápido, percebo que no espaço destinado aos envelopes de depósito há um copo descartável violentamente empurrado, com o claro propósito de inviabilizar o uso da máquina. Custo a acreditar na cena e saio me perguntando o motivo de tanto vandalismo.
Minha imaginação fértil me leva a pensar que essas pessoas talvez sejam as primeiras a cobrar dos que fazem o poder público um cuidadoso trato com a coisa pública. A cobrança, em si, não está errada e deve mesmo existir, pois é democrática em sua essência. O que certamente não passa pela cabeça desses indivíduos é que a cidadania é uma via de mão dupla, que nos coloca diante de direitos e obrigações. Afinal, como exigir respeito à coisa pública quando muitos cidadãos não têm consciência de que cada um de nós tem sua parcela de responsabilidade?
Publicado na Gazeta de Alagoas em 04/08/2009 (http://gazetaweb.globo.com/v2/gazetadealagoas/texto_completo.php?cod=150727&ass=37&data=2009-08-04)

3 comentários:

Jomery Nery disse...

Elaine,

Acredito que um dos pilares da cidadania seja a fraternidade, justamente pelo caráter horizontal que as relações cívicas carregam em seu bojo.
Não há como conviver em sociedade sempensar no próximo (aquele que está ao nosso lado).

Compartilho de sua indignação.

Um beijo,
Jomery

Ginha disse...

Querida Elaine...adorei sua palavra intitulada "Consciencia Zero".
Também fico indignada com determinadas posturas com as quais nos deparamos cotidianamenmte e me pergunto se, realmente, existe esperança para nós que acreditamos no "público" como algo precioso, que merece respeito e Zelo! Continuemos fazendo a nossa parte e nos indignando com atitudes como estas descritas aqui.
Bjos
Ginha

GEORGE SARMENTO disse...

Elaine,

Belo artigo. O compromisso com a preservação ambiental é um dever e do Estado e da sociedade. As pessoas ainda não se conscientizaram da necessidade de adotarem um consciência ecológica na sua vida cotidiana. Por isso ficam indiferente aos poluidores que emporcalham a nossa cidade em plena luz do dia.
Forte abraço
George