sábado, 28 de fevereiro de 2009

Campanha da Fraternidade 2009


Foi lançada em todo o Brasil, na quinta-feira, dia 26, a Campanha da Fraternidade, da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, com o TEMA "Fraternidade e segurança pública" e com o LEMA "A paz é o futuro da justiça". Em Alagoas, o lançamento, liderado pelo Arcebispo Dom Antônio Muniz, ocorreu na Praça Deodoro, reunindo todo o arcebispado, as pastorais, as escolas católicas e a comunidade em geral. Estavam presentes, também, representantes dos Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, da OAB, do Conselho Estadual de Direitos Humanos, dentre outros. Uma coisa que me chamou atenção foi o fato de que a iniciativa da Igreja Católica alagoana de promover debates, reuniões, caminhadas e missas voltadas para o tema do fim da violência e para a revalorização da vida humana inspirou a CNBB a colocar a segurança pública como tema da Campanha da Fraternidade, que tem alcance nacional. Infelizmente, Alagoas está no topo do ranking de mortes de jovens, no Brasil: são 5 por dia e cerca de 20 nos finais de semana. Proporcionalmente à população, há mais mortes/dia em Maceió do que em cidades como Rio de Janeiro, São Paulo, Recife, por exemplo. São jovens pobres que matam e morrem nas periferias. Aos poucos, a comunidade e o Poder Público se dão conta de que não é através do recrudescimento das leis e de uma política de intolerância (ou tolerância zero) que poderemos modificar esse panorama. Políticas preventivas, que envolvam uma transformação cultural paulatina apta a proporcionar o resgate da dignidade humana em diversas esferas talvez seja um caminho mais adequado. É claro que não se trata de receita a ser aplicada, nem tampouco de uma equação matemática... São apenas luzes para um enfrentamento não violento da violência. A Igreja Católica e as demais religiões, através de suas presenças nas comunidades e nos bairros podem ser grandes aliadas nesse desafio.

Coisas de um carnaval sem internet...

A internet hoje faz parte das nossas vidas. A ausência dela significa debilidade de informações, já que a televisão não supre o universo de notícias que circulam mundo afora. Por um problema na fonte de energia, passamos o carnaval sem acesso à rede mundial de computadores (Ninguém tem idéia do como a WWW faz falta num feriadão de 5 longos dias...). Minha única fonte de informação foi, portanto, a televisão que, entre uma escola de samba e outra, anunciou, sem muito destaque, os vencedores do Oscar. Uma notícia rápida, que enfatizava o filme Quem quer ser um milionário? como o grande vencedor, fez-me acreditar que o filme O curioso caso de Benjamim Button não havia levado sequer um prêmio. Para meu alívio, soube ontem, através de minha amiga Nivinha (a mulher mais bem informada da HUMANIDADE!) que Benjamim Button ganhou três Oscars: melhores efeitos especiais, melhor maquiagem e melhor edição de arte. Ufa! Fiquei até aliviada com essa notícia, pois gostei muito do filme. E fica aqui o meu pedido de desculpas aos leitores pela informação precipitada e equivocada.

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Hunting high and low

Estava eu, hoje à tarde, guiando meu Mustang em direção ao centro da cidade, com o rádio ligado na 107,7 MHz (Educativa). O locutor anuncia: Alexandre Pires e Ivete Sangalo. Deve ser resquício do carnaval, algo entre axé music e baladinha romântica, pensei, inocentemente. De repente, começam os primeiros acordes de Hunting high and low, do A-ha. O locutor se equivocou, pensei novamente. Equivocada estava eu... Quase perdi o controle da direção quando ouvi a voz do Alexandre Pires cantando uma versão em português (chamam isso de paródia, não?) de uma das músicas mais lindas do A-ha!!! Depois Ivete entra na música e os dois cantam juntos aquela aberração. Eu nem me lembro como era a tal letra, só sei que era algo bizarro, assustador para qualquer apreciador do bom pop rock... Por que a Ivete não fica quietinha com sua axé music e o Alexandre Pires com seu pagodinho? Prestariam um melhor serviço à humanidade e não violariam a boa música internacional. Afinal, tem ouvinte para tudo, não é?
Para tentar resgatar um pouco da dignidade que restou à melhor banda norueguesa de todos os tempos, deixo aqui a letra de Hunting high and low. E quem quiser relembrar aquele clip maravilhoso, é só clicar aqui.
Here I am
And within the reach of my hands
She sounds asleep and she's sweeter now
Than the wildest dream could have seen her
And I Watch her slipping away
Though I know I'll be hunting high and low
High
There's no end to the lengths
I'll go to
Hunting high and low
High
There's no end to lengths
I'll go
To find her again
Upon this my dreams are depending
Through the dark
I sense the pounding of her heart
Next to mine
She's the sweetest love I could find
So I guess I'll be hunting high and low
High
There's no end to the lengths
I'll go to
High and Low
High
Do you know what it means to love you...
I'm hunting high and low
And now she's telling me she's got to go away
I'll always be hunting high and low
Hungry for you
Watch me tearing myself to pieces
Hunting high and low
High
There's no end to the lengths
I'll go to
Oh, for you I'll be hunting high and low

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

Carnaval cinéfilo


Na contra-mão do fluxo carnavalesco, resolvemos ficar em Maceió neste carnaval. O Paraíso das Águas mais parecia uma daquelas cidades abandonadas dos filmes de faroeste. Para quem escolheu descanso e tranquilidade, nada mais pertinente. Algumas vantagens: pouco, ou melhor, nenhum trânsito, pizza by delivery em 20 minutos, cinemas com público interessante. Os filmes, aliás, foram os grandes protagonistas do meu carnaval. No total, foram sete, entre filmes e documentários.
No cinema, vi apenas O curioso caso de Benjamim Button. Foi o único candidato ao Oscar 2009 que pude assistir e tornou-se, portanto, o meu preferido (!). Para a minha surpresa, não levou sequer um Oscar! Se não fosse o de melhor filme, que fosse o de maquiagem ou efeitos especiais. Afinal, o que fizeram com Brad Pitt e Kate Blanchet não foi brincadeira. Ele, envelhecido, com estatura de criança; ela, linda, como uma bailarina aos 18 anos. Enfim, coisas de Hollywood... Embora as cenas do hospital tenham me parecido desnecessárias, o filme marcou pela sensibilidade que perpassava cada cena, cada olhar dos atores envolvidos. Um filme poético, mesmo sem versos.
Assisti também Sete Vidas, estrelado por Will Smith. Entre alguns cochilos, resultado da monotonia e da confusão da primeira metade do filme, comecei a me interessar pelo mistério que rondava a narrativa. Somente no final, quando a coisa se revela (não contarei o final, claro!), é que o filme ganhou sentido para mim. E que sentido! Recomendo um lencinho para os mais sensíveis.
Por indicação de minha amiga Giovanna, assisti o filme iraniano O Círculo, que mostra o sofrimento de três ex-presidiárias beneficiadas com indulto temporário. Mais do que uma narrativa sobre o pós-cárcere (tema da minha Tese de Doutorado), o filme demonstra as dificuldades vivenciadas pelas mulheres numa sociedade islâmica. Muito interessante.
Dentre os documentários, assiti Pequena história visual da violência - Artes plásticas e fotografia, de Paulo Menezes, uma produção do LISA - Laboratório de Imagem e Som em Antropologia da USP, financiado pela FAPESP. O documentário é apresentado como "um discurso crítico do que se poderia conceber visualmente como violência". São desenhos, gravuras, telas a óleo e fotografias com imagens ligadas a violência. Não há narrativa oral ou escrita. A crítica fica por conta do espectador. Meio difícil de digerir, mas vale a pena assistir.
O documentario Shakespeare atrás das grades, de Hank Rogerson, coroou o meu carnaval cinéfilo. Comprei o documentário na Fnac, em Porto, atraída pela temática das prisões. Esperava que fosse bom, mas não tinha a mínima idéia de que seria maravilhoso! O documentário é filmado na prisão Kenthucky Luther Luckett, em Kenthucky (EUA), onde um elenco formado por homens condenados pelos mais diversos crimes ensaiam a tragédia A Tempestade, de Shakespeare. Entre um ensaio e outro, os presos dão depoimentos e comparam os personagens que interpretam às suas próprias histórias de vida. Quem tem um pouco de interesse em psicanálise certamente se encantará com as narrativas. Espero um dia poder levá-lo ao Toro de Psicanálise para abrir uma discussão psicanalítica mais cuidadosa.
Os outros dois documentários que assisti são relacionados a vinho, um universo que me encanta a cada dia. Mas já escrevi demais por hoje. Ficam aqui as minhas recomendações para os que apreciam a sétima arte. Bonsoir!

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

Coisas da vida...

Há exatamente um mês não escrevo no blog. Muitas horas de estudos, muito trabalho na Ufal, viagem a Portugal para o X Congresso Luso-Afro-Brasileiro de Ciências Sociais... Enfim, a vida que segue seu rumo, sem parar, numa sucessão contínua de acontecimentos. Nesta noite nublada de carnaval, numa Maceió praticamente deserta, resolvi tratar de dois assuntos que me chamaram atenção. Coisas que me supreenderam positiva e negativamente. Coisas que me alegraram e me assombraram. Coisas da vida, portanto!

Em Alagoas, a boa notícia foi a escolha de Tutmés Airan para ocupar uma vaga de desembargador no Tribunal de Justiça. Uma história de vida profissional marcada pela atuação jurídica notável. É notório que há um certo processo de mudança na estrutura do nosso Judiciário. A cada novo desembargador que se propõe a fazer diferente, como o fez o Sapucaia, é acesa uma pequena luz de esperança para os destinatários da Justiça alagoana. O fim (ou redução) do nepotismo foi também um grande avanço na moralização do Poder Judiciário. É claro que estamos longe de um patamar satisfatório... Ainda há muito o que se fazer. Por isso, a chegada de um profissional como o Tutmés, compromissado com o social e sem qualquer interesse pessoal representa um reforço para a mudança estrutural e ideológica da Justiça Alagoana. Sorte para ele!

Do outro lado do Atlântico, o caso da advogada pernambucana, Paula Oliveira, supostamente agredida por neonazistas na Suiça. Fiquei estupefata com tamanha violência. Senti vontade de chorar, sofri por ela e pelos bebês abortados, tive raiva dos agressores. Sem muito tempo para acompanhar notícias na TV, fiquei sabendo do andamento do caso através de amigos e parentes. Quando me falaram que a polícia suíça levantara a hipótese de auto-agressão, achei um absurdo. Como alguém poderia pensar em algo tão sórdido? Dias depois, a afirmação categórica de que Paula havia, inclusive, assinado uma confissão foi um choque maior do que a própria notícia inicial da agressão. Confesso que ainda duvidei e fiz elocubrações sobre a possibilidade de uma estratégia política do governo suíço. Acho que foi a fase da negação. Lamentavelmente, as notícias dão conta de que, de fato, não houve neonazistas, não houve agressão e não houve, sequer, gravidez. Se tudo isso é verdade, pergunto: O que passou pela cabeça da advogada? O que fundamenta uma atitude dessa natureza? Não tenho a mínima idéia. Só posso afirmar que a imagem daquele corpo marcado me fez querer que a agressão tivesse mesmo ocorrido. Seria menos assustador que pensar na possibilidade de alguém fazer aquilo com o próprio corpo...Aguardemos cenas dos próximos capítulos.

Esses são os paradoxos da vida. Há coisas que nos alegram e outras que nos entristecem. É nessa dialética que o curso da vida se inscreve na História. Como dizia meu saudoso Pai: "Há gente pra tudo no mundo!". Não sei por que ainda me surpreendo...