quinta-feira, 28 de agosto de 2008

Antanas Mockus


Hoje à tarde a UFAL recebeu o Prof. Antanas Mockus, ex-prefeito de Bogotá, que veio a Maceió para colaborar com o Governo do Estado nas ações de combate ao crime e à violência. A reunião controu com as presenças da Reitora Ana Dayse, do Vice-Reitor Eurico, de alguns dos Diretores de Centros e demais professores interessados na temática. Nós, do NEVIAL, também estávamos lá, unindo forças para colaborar através de nossas pesquisas e estudos, sempre voltados para a questão da violência. A apresentação de Antanas Mockus envolveu uma concepção de cidadania que parte da valorização da vida humana, fundamental para qualquer atividade que se proponha a reduzir os índices de homicídio. Esse, aliás, é o objetivo inicial do Plano de Paz que se busca implantar em Maceió, que já conta com um número de homicídios/mês maior do que na Faixa de Gaza. Lamentavelmente, são muitas vidas perdidas a cada dia, sendo em sua maioria jovens das classes economicamente mais pobres. É claro que isso já começa a bater na porta da classe média, mas não com a contundência com a qual atinge as populações dos bairros pobres. A desvalorização da vida e a banalização da morte - expressões da Professora Ruth Vasconcelos - reconfiguram a forma como a violência se manifesta, de modo a tornar muito delicada a abordagem ao problema, já que as pessoas não mais se chocam com a morte violenta de um jovem. A proposta de Mockus não se concentra na punição, no recrudescimento da legislação ou em respostas violentas. Ao contrário, busca encontrar na própria sociedade os sentimentos que norteiam a idéia de uma vida pacífica e harmoniosa, pautada pelo respeito aos outros e pela valorização da cultura local, como no caso do Bumba-meu-boi, elemento típico do folclore alagoano, que poderá ser utilizado como um instrumento para a valorização dos sujeitos. A longa reunião rendeu bons frutos, sobretudo porque muitos dos professores presentes demonstraram o interesse pelo tema, tratado direta ou indiretamente em suas pesquisas, desde a área de saúde, até no campo das ciências exatas, que podem contribuir, principalemente, na formação de um banco de dados sólido para nortear as ações do Estado e da sociedade civil. O NEVIAL está aí, atento a tudo isso. Sinto que há algo diferente no ar... Nunca a questão da segurança pública em Alagoas foi tratada nesses termos: cidadania, cultura, revalorização da vida. Espero poder ver concretizados as idéias há tanto tempo debatidas pelos cientistas sociais.

5 comentários:

Jomery Nery disse...

Uma pena não poder estar presente, mas quando morava na Argentina, o governo estava tentando usar as mesmas estratégias que a Colômbia usou... realmente a valorização do indivíduo e a mudança de combate para prevenção é algo que deferia ser implementado... Vejo que Alagoas esta investindo em ciência para poder vencer suas debilidades.

Mário disse...

Queria ver a "mudança do combate para prevenção" e a "ciência" funcionando com Pablo Escobar vivo e atuante.

Jomery Nery disse...

Realmente a morte de Escobar foi de grande importância para a mudança do quadro colombiano. No entanto, Escobar possuía toda uma rede de membros de sua confiança que levariam em frente seus interesses.
Tenho minhas dúvidas quanto a duração da era Escobar e sua influência na perpetuação da situação daquele então.

Ruth Vasconcelos disse...

Elaine,
Concordo que há algo diferente no ar ... talvez seja exatamente a disposição em discutir a inserção do sujeito no processo de produção da violência. Já é tempo de nos implicarmos subjetivamente com a problemática da violência, deixando para trás aquela postura "queixosa" e "lamurienta" que atribui a culpa de todas as mazelas sociais ou ao Estado ou a estrutura capitalista. Esse paradigma ausenta os sujeitos do processo social, atribuindo um caráter autômato à estrutura capitalista, como se esta tivesse vida própria, independente dos sujeitos. É interessante começarmos a pensar que as estruturas(econômicas, sociais, políticas, policiais, prisionais, etc)como criação social, humana, portanto, expressão das relações sociais. A mudança na cultura política de um povo, certamente implicará mudanças estruturais, mas isto não pode ser visto numa perspectiva mecanicista, ingênua, que se ampara no seguinte raciocínio: mudemos primeiro as estruturas; a transformação dos sujeitos virá como conseqüência. É uma estupidez não perceber que o meio é produto das relações humanas; muitos preferem estacionar diante da certeza de que “o homem que é produto do meio”. Na verdade, entre sujeito e sociedade existe uma relação de co-existencialidade, onde é impossível pensá-los separadamente.
Elaine, este é um longo debate que já estamos envolvidas há um bom tempo. Fico muito feliz com a oportunidade que estamos tendo de participar e provocar debates onde a violência não seja vista apenas como algo que está fora do sujeito; pois não há, de fato, um só episódio de violência que não tenha tido a participação do ser humano (a não ser os efeitos violentos que alguns fenômenos da natureza provocam aos seres humanos). Gosto de provocar nas pessoas a seguinte reflexão: em que medida a estrutura é a causa única e exclusiva das atitudes de intolerância e desrespeito que temos, muitas vezes, com os nossos pares?

Elaine Pimentel disse...

Ruth,

Esse seu comentário deveria ser transformado em artigo. Não se trata apenas de uma resposta contundente, mas delicada, a provocações "nonsense", mas também sintetiza uma perspectiva mais ampla de avaliação do problema da violência nas cidades contemporâneas. Isso estará no Blog do Nevial (quando for criado!).