sábado, 2 de agosto de 2008

A saga de Lampião


O programa Terra e Mar, da TV Gazeta, mostrou hoje um pouco da história do Cangaço, com especial ênfase à figura de Lampião e seu bando. O Cangaço é anterior a Lampião, mas somente com ele passa ter a face que hoje conhecemos. Entre herói e bandido, Virgulino Ferreira (Lampião) tornou-se uma figura quase folclórica, que inspira artesãos, artistas plásticos, repentistas e compositores. Assim também sua companheira, Maria Bonita, mulher forte e guerreira, além de outros cangaceiros, como Corisco e Dadá. Cresci ouvindo histórias sobre o bando de Lampião e suas andanças pelo interior do Estado de Alagoas. Sua fama de sanguinário corria todo o Nordeste, criando uma atmosfera de medo e angústia. Se aparecia um boato de que o tal bando estava por perto, as pessoas se trancavam em suas casas, apagavam todas as luzes, faziam silêncio absoluto. Algumas viagens ao município de Piranhas, em Alagoas, acentuaram o meu interesse pelo tema, sobretudo porque pude visitar um museu onde estão expostos objetos do Cangaço, bem como a Gruta de Angicos, onde aconteceu a chacina que vitimou Lampião, Maria Bonita e outros cangaceiros. O mais curioso são as histórias contadas pelos guias locais, cuja veracidade não posso atestar. Maria Bonita, por exemplo, seria casada com um alfaiate. Apaixonou-se por Lampião, largou o marido e uniu-se ao chefe do Cangaço, tornando-se a mais famosa cangaceira da história. Lampião, por sua vez, era muito vaidoso: usava perfumes caros, tomava uísque, gostava de jóias (ouro e pedras preciosas) e fazia de suas roupas de couro verdadeiras obras de arte. Não foi à toa que permitiu ser filmado pelo mascate libanês Benjamin Abrahão, como podemos ver no filme Baile Perfumado, que apresenta cenas reais de Lampião e seu bando. Outro fato que muito me surpreendeu foi saber que as cabeças dos cangaceiros assassinados (expostas na escadaria da Prefeitura de Piranhas) foram levadas para Salvador, na Bahia, com o propósito de serem submetidas a exames criminológicos. O que se queria era averiguar se a anatomia daqueles crânios estava em conformidade com o que descrevia Lombroso, em L'Uomo Delinquente, acerca do criminoso nato e atávico. Como estudiosa da Criminologia, não pude deixar de achar aquilo extremamente interessante. Por outro lado, ao visitar o santuáro do Pe. Cícero, em Juazeiro do Norte, no Ceará, fiquei sabendo que Pe. Cícero (outro personagem controvertido da história do Nordeste) era padrinho de Crisma de Lampião e isso tinha implicações políticas para a época. Isso sem falar que, no caminho para Juazeiro do Norte, paramos para almoçar em Serra Talhada e descobrimos, ao consultarmos nosso guia de viagens, que aquela era a cidade onde havia nascido Lampião. Tentamos visitar a casa dele, mas não estava aberta para visitação. Um bom motivo para voltar ali, pensei. Não pude deixar de refletir sobre a forte presença da saga de Lampião em grande parte do Nordeste (principalmente entre os Estados de Alagoas, Sergipe, Pernambuco e Bahia). Lamento, apenas, não ter tempo de ler mais sobre o tema.

7 comentários:

Madalena Sofia Galvão Viana disse...

Também assisti ao Programa Terra e Mar de hoje à tarde. Sabe, sempre gostei muito da história de Lampião, até porque fala de coisas que são muito próximas de nós. Do “coronel” da fazenda que possue “cangaceiros” próprios para garantir sua segurança e soberania; da força pública que por várias vezes se confunde e retribui com as mesmas armas; da carne de bode; da sanfona que toca forró; das rendeiras, de coisas muito nossas, muito nordeste.
Dizem que quando Maria Déia (nome verdadeiro de Maria Bonita) adentrou no cangaço, ela fez com que todos os cangaceiros se “casassem”, não ficassem sozinhos, para evitar os estupros tão freqüentes quando eles invadiam as cidades.
De fato Lampião é uma figura controvertida, mas bem interessante de estudar.

Mário disse...

A história de que o Pe. Cícero era padrinho de crisma de Lampião provavelmente não é verdadeira, tratando-se de mais uma lenda que cerca a figura do cangaceiro. No livro do norte-americano Billy Jaynes Chandler, é relatado o único encontro entre Lampião e o Pe. Cícero, o qual, de acordo com Chandler, relutou muito em participar. O encontro deu-se em Juazeiro, como parte de um acordo com as autoridades onde Lampião renunciaria a vida de crimes. Foi nesse acordo em que lhe foram concedidas armas e a patente de capitão, com o propósito de criar uma força para combater a Coluna Prestes. Esse é o panorama descrito por Chandler, no qual o capitão ficou com as armas, a patente, não abandonou o banditismo e nem chegou perto da Coluna Prestes.

Eulina Costa disse...

Quando criança,ouvia muitas histórias sobre Lampião e Maria Bonita,ficava assustada, pois a fama dele era mesmo de um bandido
que não respeitava as casas de família,era um terror por onde passava e nada de algo bonzinho sobre ele e seu bando,o que ele queria tinha que ser lei,senão a bala fumaçava sem dó nem piedade.Hoje sua história é contada com ênfase de herói ou bandido que chega ser interessante.Tudo bem,quero acreditar , apesar das provas,objetos e testemnhas, que seja uma lenda, e que amanhã meus netinhos não se assustem e achem graça nas aventuras de Lampião o "Rei do Cangaço"

Elaine Pimentel disse...

Pois é, Mainha. Foi da senhora e da Vovó que ouvi as mais instigantes histórias sobre Lampião, o Rei do Cangaço. Nada melhor do que uma memória viva e uma Mãe internauta, deixando recadinhos no meu blog!

Elaine Pimentel disse...

É isso aí, Sofia, controvertido e interessante!

Bom, Mário, não posso afirmar se o que se fala de Lampião é verdade ou não, muito menos sobre o apadrinhamento de crisma por parte do Pe. Cícero, embora seja esse o registro no Memorial Pe. Cícero, em Juzeiro do Norte. Confesso que achei a hipótese historicamente interessate.

Patricia Pedri - Professora de História disse...

Gostaria de saber o nome do professor especialista em cangaço que apareceu no programa. Você sabe? Se você puder me mandar por e-mail, eu agradeceria. patriciapedri@gmail.com

Patricia Pedri - Professora de História disse...

Eu gostaria de saber o nome do professor especialista em cangaço que apareceu no programa. Acho que ele é da universidade da Bahia ou talvez Pernambuco. Se você puder me ajudar mande um e-mail para patriciapedri@gmail.com. Obrigada!